João Carlos Meirelles: Fazer diagnósticos e apresentar soluções rapidamente distinguem engenheiros da Poli no mercado

Engenheiro Civil, o secretário Estadual de Energia e Mineração de São Paulo, João Carlos Meirelles comemora 60 anos de formado em 2018

Por Janaína Simões

Engenheiro civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), o atual secretário estadual de Energia e Mineração do Estado de São Paulo comemora 60 anos de formado em 2018. Mais conhecido por sua atuação na gestão pública, pois ocupou diversas secretarias e a assessoria de Assuntos Estratégicos do governo Geraldo Alckmin, ele tem também larga experiência na construção civil. “Sou um especialista em sertão, sou um construtor de cidades”, se autodefine.

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Sua carreira na política começou no legislativo, quando foi vereador de São Paulo em dois mandatos e chegou a ocupar o posto de presidente da Câmara. Saiu em razão da implantação do regime militar no Brasil, em 1964. Voltaria tempos depois, com a redemocratização do País. No executivo, foi secretário estadual de Agricultura e Abastecimento de 1998 a 2002, de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo entre 2003 e 2006, além de Assessor Especial de Assuntos Estratégicos do governador do Estado de São Paulo em 2013. Desde 2015 é secretário estadual de Energia.

A decisão de cursar engenharia foi tomada ainda no começo da adolescência. Depois de enfrentar um vestibular muito difícil, passou a praticamente ‘morar’ na Poli, que em sua época estava sediada onde hoje é o prédio da Fatec na Avenida Tiradentes, centro de São Paulo. “No meu período, eram oito horas de aula, de segunda a sábado. Esse aparato me permite ser engenheiro há 60 anos, me permite saber o que é e como evolui a tecnologia”, destaca.

Sua trajetória, ocupando posições diversificadas, é um reflexo do que considera a principal e mais importante característica da Poli: formar pessoas capazes de pensar e de oferecer soluções em um prazo relativamente curto de tempo, conforme ele destaca na entrevista a seguir.

Por que escolheu fazer engenharia civil e por que decidiu estudar na Poli, especificamente?

João Carlos Meirelles – Aos 12, 13 anos, decidi que seria engenheiro civil. Meu pai disse “perfeitamente”, e, nas primeiras férias que tive, me colocou para trabalhar como ajudante de servente de pedreiro. Trabalhei durante 60 dias nisso e então firmei minha vontade de ter essa profissão. Escolhi a Poli porque é, indiscutivelmente, a melhor Escola de Engenharia do País. O vestibular era duríssimo, muito mais duro do que a Fuvest hoje. Quando fiz vestibular, havia 180 vagas, mas só foram preenchidas 130. O corte era tão brutal…

Como analisa a evolução da engenharia da época em que estudou e se formou, para hoje?

JCM – A engenharia é absolutamente dinâmica: ou ela incorpora as tecnologias disponíveis ou fica ultrapassada. Apesar de eu ser conhecido pela minha atuação na gestão pública, estive sobretudo voltado para o setor privado, para a engenharia de desenvolvimento de grandes áreas. Me formei na Poli em 1958, e, ao longo desses 60 anos, assisti mudanças absolutamente importantes na engenharia civil tradicional – relacionadas a métodos construtivos, a novos materiais –, e acompanhei o desenvolvimento da engenharia voltada para saneamento básico, eletricidade, para os insumos básicos do viver das pessoas. Observei nesse período o crescimento de uma demanda cada vez mais evidente por engenheiros bem formados. A cada dia a engenharia se torna mais sofisticada, especialmente em setores em que a atividade não é percebida de maneira rotineira. Por exemplo, na medicina, hoje, 90% é engenharia. Não que prescinda do médico, ele é o grande maestro, mas cada vez mais ele se vale de processos diganósticos que são pura engenharia, chegando a tal ponto que é possível a um médico da Faculdade de Medicina da USP, aqui em São Paulo, fazer o diagnóstico de pessoas que estão no interior da África. A Politécnica é a matriz desse processo aqui em São Paulo. Ela forma gente com uma bagagem técnica monumental, e também capaz de pensar, de se manter permanentemente em estado de indagação, uma característica extremamente importante para os profissionais.

 

Vê algum aspecto da formação do engenheiro ofertada hoje pela Poli e por outras instituições que deva ser aprimorado?

JCM – A Poli está permanentemente preocupada com a evolução do ensino de engenharia. A Escola estruturou um curso de engenharia do petróleo em Santos porque não tínhamos essa iniciativa. Quando eu era estudante, a Poli criou o primeiro curso de engenharia naval do País. O que é curioso, porque São Paulo era menos importante do que o Rio de Janeiro, por exemplo, no âmbito da construção naval. Ter cérebro é a característica da Poli. O que precisa ser aperfeiçoada é a capacidade de rapidamente se sintonizar com as novas formas de ensino e com as demandas da sociedade.

 

Por que a Poli, uma Escola de engenheiros, forma tantos gestores/administradores públicos?

JCM – A engenharia é a capacidade de interpretar uma fenomenologia, ou seja, os fenômenos naturais e da sociedade, e aplicar sobre eles matrizes de solução. Os engenheiros politécnicos têm desenvolvida a capacidade do raciocínio matemático, do raciocínio cartesiano. Ou seja, sabem trabalhar em um sistema no qual as coisas têm começo, meio, fim. É por isso que se encontra na história da Poli pessoas capazes de transformar a realidade.

 

Quais as maiores contribuições da Poli para sua carreira?

JCM – A Poli me deu a capacidade estratégica de diagnosticar um problema, considerando-se o fator escasso que é o tempo. Ou seja, como aplicar a capacidade de diagnóstico para buscar a solução mais correta, mas no menor tempo possível. Por isso temos tantos engenheiros da Poli no mercado financeiro. Porque é instantâneo: se algo ocorre no mercado no Japão, já é preciso ver como afeta outros mercados e depois tomar rapidamente decisões para os seus investidores.

 

Em quais demandas da Secretaria de Energia e Mineração a Poli poderia trabalhar e contribuir para atender melhor a sociedade?

JCM – O atual grande desafio está relacionado a energia elétrica e a combustíveis. São Paulo montou um modelo hidroelétrico absolutamente eficiente, que sustentou seu desenvolvimento industrial. Hoje, somos abastecidos por meio de um sistema nacional interligado. Entretanto, o Estado de São Paulo importa 63% da energia que consome. O Brasil, como um todo, vai demandar mais energia quando houver uma retomada do crescimento econômico. O consumo vai aumentar também porque estamos cada vez mais eletrônicos. Porém, não temos mais novas fronteiras para instalarmos grandes hidroelétricas. As pequenas centrais hidroelétricas devem ser aproveitadas, mas não são solução energética de peso. Não temos ainda as bateriais para armazenar a energia solar nem conseguimos eficiência das células fotovoltaicas de grande performance. Temos biomassa de cana em termos crescente, mas a safra dura oito meses no ano. E precisamos fazer uma gestão dos recursos hídricos que considere os múltiplos usos da água: para beber, para saneamento, para irrigação, para pecuária. Precisamos de uma solução que atenda as demandas nacionais de agora. Ou seja, precisamos de novas formas de energia. Com o pré-sal, temos uma forma de energia de transição, o gás natural. Sua exploração exige alta tecnologia porque não é uma energia renovável nem absolutamente limpa, mas pode ser minimamente poluente com as inovações. Em alguns outros locais, como na Bacia de Campos, pudemos reinjetar o gás. Na de Santos não é possível fazer isso por causa da alta pressão do poço. Se não derem destino a esse gás, as empresas não produzirão petróleo porque não podem queimar o gás em alto mar. Para usar esse gás, será preciso fazer dutos. São investimentos brutais. A Poli pode contribuir para avançarmos nesses desafios, pensando inclusive em como fazer a integração desses diversos sistemas – hidroelétrico, solar, eólico, biomassa – com os novos insumos que estão surgindo, como biometano, a fermentação da vinhaça.