Sua atuação é considerada crucial na modernização do ensino de Engenharia Elétrica no Brasil. Conhecido na Poli-USP como o Mega-Mestre, e tornou-se um ícone da Engenharia nacional
Luiz de Queiroz Orsini formou-se Engenheiro Mecânico-Eletricista pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) em 1946. Obteve seu doutorado pela Universidade de Paris-Sorbonne, em 1949. Tornou-se Livre Docente da Escola Politécnica em 1954, Catedrático em 1957 e Professor Emérito em 1998. Era Fellow (1990) e Life Member (1998) do IEEE (Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos, EUA).
Foi Diretor do Instituto de Física da USP em 1974 e 1975; Chefe do Departamento de Engenharia de Eletricidade da Poli-USP de 1967 a 1973; Vice-Presidente do Conselho do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) em 1982 e 1983; e de 1988 a 1990 foi Pró-Reitor de Graduação da USP.
Foi membro fundador da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e teve importantes atuações na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Recebeu vários prêmios e homenagens durante sua carreira, e participou de inúmeras comissões profissionais: na FUVEST, no IEE-USP, no MEC, na FUNBEC, dentre outras.
Como educador, Orsini dedicou-se ao ensino de graduação e pós-graduação por mais de seis décadas. Sua atuação é considerada crucial na modernização do ensino de Engenharia Elétrica no Brasil. Entre suas contribuições, Orsini participou da criação de novos cursos, disciplinas e laboratórios, preparou material didático, e promoveu o uso de computadores como ferramenta de ensino. Estima-se que o professor tenha dado aulas para mais de 4000 estudantes. Entre seus discípulos estão engenheiros que lideraram alguns dos principais projetos de tecnologia do Brasil, como o desenvolvimento de computadores digitais, redes de telecomunicações, e infraestrutura de energia elétrica; outros alunos tornaram-se também professores que continuam a educar novas gerações de engenheiros. Pela sua ampla atuação e profundo envolvimento com a educação em Engenharia, Orsini era conhecido na Poli como o Mega-Mestre, e tornou-se um ícone da Engenharia nacional.
Mais especificamente, na Escola Politécnica, Orsini ajudou a aprimorar o currículo de Engenharia Elétrica, que em meados da década de 1950 consistia basicamente de tópicos de Engenharia Civil com algumas noções de mecânica e eletricidade. Nas décadas seguintes, Orsini e seus colegas organizaram a expansão do Departamento de Engenharia de Eletricidade e a modernização do currículo, que além de disciplinas na área de geração e distribuição de eletricidade passou a incluir também tópicos como eletrônica, telecomunicações, instrumentação e sistemas digitais. Orsini fez contribuições fundamentais no estabelecimento de laboratórios e práticas experimentais para complementar o ensino teórico, tendo inserido os computadores como ferramentas de aquisição, automatização e análise de medidas elétricas. Produziu material didático extenso e original, composto por livros, apostilas, listas de exercícios e roteiros experimentais sobre conteúdo que, na maioria dos casos, não era então disponível na língua portuguesa. Atualizou o ensino de análise de circuitos elétricos, eletromagnetismo e outros tópicos com o uso de técnicas matemáticas específicas, como transformada de Laplace e análise de Fourier.
A atuação do professor Orsini, quando chefe do Departamento de Engenharia de Eletricidade foi decisiva para a consolidação da pós-graduação na Escola Politécnica da USP.
Orsini foi também professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, na Escola de Engenharia Mauá (atual Instituto Mauá de Tecnologia), na Faculdade de Engenharia Industrial (atual Centro Universitário FEI) e na Faculdade de Engenharia de Mogi das Cruzes. Ministrou aulas em disciplinas do curso de graduação em Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da USP até o ano de 2007.
Como pesquisador, Orsini trabalhou nos laboratórios de Yves Rocard, em Paris, onde realizou estudos sobre o efeito de cintilação em diodos saturados, sobre amplificação seletiva em baixa frequência, e sobre sondagens eletromagnéticas da ionosfera. Em São Paulo, montou a primeira instalação de sondagem ionosférica na Cidade Universitária, no local onde atualmente se localiza o Instituto de Biociências da USP. Em 1955, realizou estágio no Central Radio Propagation Laboratory, National Bureau of Standards, em Boulder, Colorado, EUA. Realizou também pesquisas nas áreas de circuitos elétricos e instrumentação eletrônica, tendo orientado alunos de iniciação científica e de pós-graduação, coordenado projetos e publicado trabalhos nesses tópicos.
Orsini é autor e coautor de diversos livros, entre eles Circuitos Eletrônicos, Eletrônica, Curso de Circuitos Elétricos (2º lugar Prêmio Jabuti 1995), Introdução aos Sistemas Dinâmicos e Simulação Computacional de Circuitos Elétricos (8º lugar Prêmio Jabuti 2012). Algumas destas obras tornaram-se referência bibliográfica na língua portuguesa em várias instituições de ensino de Engenharia Elétrica no Brasil. Destaca-se também a tradução de Circuitos Eletrônicos, denominada Theorie et Practique des Circuits Electroniques, publicado em francês, publicada pela Bibliotec Technique-Phillips, Centrex Eindhover, Holanda, 1967.
Em 1999, a biblioteca do prédio da Engenharia Elétrica da Escola Politécnica foi reinaugurada, recebendo merecidamente o nome de “Biblioteca Prof. Dr. Luiz de Queiroz Orsini”. Anualmente, durante a cerimônia de graduação da Escola, os melhores alunos do quarto e quinto anos do curso de Engenharia Elétrica, ênfase em Telecomunicações, são agraciados com o “prêmio Luiz de Queiroz Orsini”, oferecido pelo Laboratório de Comunicações e Sinais (LCS) do Departamento de Engenharia de Telecomunicações e Controle da Poli-USP.
Seu interesse pela eletrônica, que o motivou desde muito jovem, e sua curiosidade sobre tudo o que se relacionasse com as ciências e o desenvolvimento da tecnologia e da engenharia o acompanharam por toda a vida. Nos seus últimos anos, quando alguns colegas e ex-alunos reuniam-se em sua casa para rever o Mega-Mestre, ele continuava perguntando sobre quais eram as novidades na Poli e nas áreas da eletrônica e computação.
Orsini era também um apaixonado por música clássica, e gostava de preparar suas aulas ao som de concertos e sinfonias, tocadas em um rádio antigo que ele mantinha em seu escritório. Era uma pessoa gentil, nunca perdia a calma, tratava todos com cortesia e extremo senso de justiça e integridade. Sua saudosa esposa, a querida Dona Dulce, seus filhos e netos, que nutrem por ele admiração e carinho eternos, sempre diziam que o professor Orsini tinha duas famílias: a de sangue e a da Poli, e a ambas ele dedicou intensamente sua vida.
De acordo com seus jovens alunos, o principal ensinamento do professor foi o de valorizar o aluno e sempre manter os cursos atualizados: “o professor estava sempre preocupado com a melhoria da qualidade de ensino e a adequação das disciplinas aos novos perfis de alunos que apareceram ao longo dos anos”. Ele atualizava continuamente seus cursos e material didático para mostrar exemplos de aplicações modernas do assunto que estava sendo estudado. Era comum vê-lo levar, mesmo nas aulas teóricas, diversos equipamentos, como osciloscópio, analisador de espectro, computador (já na década de 1980) para exemplificar, na prática, os conceitos teóricos que apresentava.
Os colegas que tiveram o privilégio de trabalhar com o Prof. Orsini, aprenderam e continuam a ensinar a importância da inovação na educação, da aplicação da teoria na prática, do papel fundamental da tecnologia na Engenharia e nos processos de aprendizagem. Ele foi um grande exemplo de generosidade acadêmica: mantinha-se sempre atualizado, fazia questão de compartilhar seu conhecimento, ideias e projetos, e estava sempre interessado e disposto a aprender com as experiências de outros.